Tradutor

quinta-feira, 10 de junho de 2010

A Criança tem stress?

Os adultos passam a vida a dizer o quanto estão stressados. Que precisam mudar de estilo de vida e amenizar o ritmo das actividades quotidianas. Já paramos para pensar que as crianças podem também sofrer de stress? Antes de enrugar a testa e achar que o stress só acontece com adultos leia com atenção este artigo.

O stress tem-se tornado, nas últimas décadas, um dos temas mais populares de pesquisa na área da saúde mental. Entretanto, crenças que postulam a inexistência de stress em crianças, entre outros mitos, permanecem, ainda hoje, cristalizadas no senso comum. O stress pode apresentar-se na infância independentemente da classe e meio sócio-cultural ao qual a criança pertença.

O stress infantil, que não difere do adulto, pode ser definido como uma reacção do organismo através de alterações físicas e emocionais que ocorrem na vida da criança quando esta se depara com situações que a amedrontam, excitam, confundem, ou, que até, a fazem extremamente feliz. Qualquer situação que desperte uma emoção forte, boa ou má, que exija mudanças no modo de agir, pode ser considerada como um elemento stressante ou fonte geradora de stress. A reacção do organismo a situações que despertam algum tipo de tensão é uma consequência inevitável do processo de vida/crescimento e está presente desde o nascimento.

Quando a criança consegue utilizar estratégias de enfrentamento1 para restabelecer a homeostase, o stress é diminuído e o seu equilíbrio interno volta ao normal (stress positivo ou eustress). Por outro lado, se a tentativa de restabelecer o equilíbrio não for bem-sucedida devido a estratégias equivocadas, a criança começa, então, a adoecer (stress negativo ou distress)2. Neste caso, podem surgir problemas graves de saúde, de comportamento e dificuldades de relacionamento causando, consequentemente, distúrbios de atenção e concentração, dificuldades de aprendizagem e baixo rendimento escolar.

Mas, então, surge a questão: o que pode desencadear stress?

Primeiro é necessário esclarecer que tudo depende da avaliação que fazemos das situações que nos acontecem. Não é só o facto em si que gera stress mas, principalmente, a forma como o avaliamos entre positivo ou negativo. Por exemplo, o que para uma pessoa pode ser um evento devastador para outra pode ser considerado uma oportunidade de crescimento e aprendizagem.

As fontes geradoras de stress infantil podem ser divididas em externas e internas. As primeiras dizem respeito aos eventos que ocorrem na vida da criança e que ultrapassam a sua capacidade de adaptação. Já as segundas referem-se às características de personalidade, pensamentos e atitudes da criança frente aos momentos experienciados. Neste último caso, o stress pode ser criado pela própria maneira de perceber a si mesmo e ao mundo em redor.

Fontes Externas:

-Mudanças Constantes – casa, escola, país;-Actividades em excesso;
-Brigas e/ou separação dos pais;
-A Escola: ambiente físico desadequado, a conduta do professor, as formas de avaliação, a mudança de ciclos, a repetência;
-Morte na família;
-Exigência e/ou rejeição de colegas;
-Disciplina confusa – quando não há uma definição clara dos comportamentos que são ou não aceitáveis;
-Hospitalização e doenças;
-Nascimento de irmão;

Fontes Internas:

-Timidez – a criança tímida tende a isolar-se, fugir ou evitar certas situações cotidianas, “complexo de inferioridade”;
-Ansiedade – agitação, irritabilidade excessiva, intranqüilidade e medo de que algo ruim aconteça ameaçando-lhe a própria segurança;
-Castigos Divinos – medo das crianças de serem punidas por Deus;
-Formação das crenças irracionais – crenças irracionais são uma maneira distorcida e disfuncional de julgar as situações e estão ligadas a uma tendência particular de julgar negativamente a si mesmo, o mundo e as pessoas. Tais crenças constroem-se a partir do meio familiar, escolar, religioso, bem como da cultura em que a criança está inserida.

No quadro a seguir serão apresentados os sintomas mais frequentes relacionados ao stress infantil excessivo:




Pesquisadores de referência sobre o assunto apontam que a negação de pais e profissionais acerca da existência do stress infantil origina, cada vez mais, o agravamento dos problemas e sintomas de muitas crianças, na medida em que elas são privadas de tratamento.

Um estudo realizado pela psicóloga Eveline Cunha (2000) com 100 crianças do 2º ano de escolas públicas e privadas, de Juiz de Fora, Brasil, com idades entre 7 e 9 anos evidenciou através da Escala de Stress Infantil – ESI (Lipp e Lucarelli, 1998), que 25 crianças apresentavam médio e alto nível de stress. Baixo índice para as estatísticas no geral mas muito significativo para as 25 crianças e suas famílias que vivenciavam o problema sem o devido diagnóstico e orientação.

O psicólogo tem um importante papel neste contexto para auxiliar as crianças, os pais e os professores a identificar e a lidar com os agentes stressores de maneira a reduzir seus efeitos negativos, assim como, para propor estratégias preventivas.
Nas próximas semanas falaremos mais detalhadamente sobre algumas causas de stress infantil e as estratégias de como lidar com o stress.

Fonte:

■CARVALHO, E. (2000) Stress Infantil e Escolaridade: um estudo em escolas públicas e particulares de Juiz de fora” (bolsista do VII Programa de Bolsas de Conclusão de Curso de Graduação – BCCG/ UFJF) Universidade Federal de Juiz de Fora.
■FRANÇA, A C. & RODRIGUES, A .L. (1999) Stress e Trabalho: uma abordagem Psicossomática. São Paulo: Atlas.
■LIPP, M. (org). (1999) O Stress está dentro de você. São Paulo: Contexto.
■LIPP, M.E.N & LUCARELLI, M. D.M. (1998) Escala de Stress Infantil. São Paulo: Casa do Psicólogo.
■TANGANELLI, M.S.L. & LIPP, M.E.N. (1998) Sintomas de stress na rede pública de ensino. Estudos de Psicologia. São Paulo, vol.15, nº 3, p:17-27.
1 Enfrentamento: conjunto de esforços que uma pessoa desenvolve para manejar ou lidar com as solicitações externas ou internas, que são avaliadas por ela como excessiva ou acima de suas possibilidades (França e Rodrigues 1999).

2 Tanganelli e Lipp,1998

Sem comentários:

Enviar um comentário