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sexta-feira, 28 de março de 2014

Espalhar a Alegria de Viver - Prevenir o Suicídio



Ah, meu amigo querido

Alguns versos vou te ofertar
Torcendo pra que minhas palavras
Possam te iluminar
E mude a tua opinião
Não tire a tua vida não
Eu vou te ajudar!
Pra começo de conversa
Quero confraternizar
Sei que a tua dor é grande
Mas estou a te escutar
Aqui tens um ombro amigo
Então escuta o que eu digo
Que tudo irá melhorar (…)
Mude a tua referência
Deixe de se lamentar
Encare os problemas de frente
Que tudo irás superar
Porque força você tem
E contas com auxílio do Bem
E de amigos a te amparar
E assim pouco a pouco verás
Sua dor cicatrizar
Ao usar esse remédio
Poderoso e salutar
De muita capacidade
Que se pode tomar à vontade
E esse remédio é amar”.
(autor desconhecido)
Olhamos à nossa volta e observamos o sofrimento das pessoas. Variadas são as causas atribuídas: desemprego, enfermidades, morte de familiares, conflitos íntimos, depressão, divórcios, violência, crimes sexuais, miséria, exclusão social, abandono, entre outros. Constatamos, em todos estes casos, o estado de desespero, de desesperança, a sensação de vazio, angústia e desamparo que se prolongam no tempo e geram efeitos negativos, comprometendo o equilíbrio e bem-estar dos indivíduos.
A falta de perspetiva em uma vida melhor e a falta de estratégias intrínsecas e extrínsecas para lidar com as situações desafiadoras da vida fazem com que parte da população, em vulnerabilidade física e psicológica, alimente as ideias suicidas. Pouco a pouco, como uma semente que cresce lentamente em exposição ao sol e à rega, as ideias de auto lesão ou suicidas vão “brotando e crescendo” ao longo das experiências dolorosas e acabam por ganhar força. Para muitos, a morte, que é uma situação permanente, apresenta-se como a única solução viável para eliminar uma dor considerada intolerável e que, na maior parte das vezes, é decorrente de uma situação transitória.
O meu objetivo neste artigo não é tecer julgamentos. Não é dizer o que é certo ou errado. Cada um tem a sua dor e cada dor é única. Meu objetivo é partilhar reflexões acerca do nosso papel e da posição da sociedade diante destes fatos.
  •  Será possível aliviar a carga de alguém?
  •  É possível abrir novos horizontes para aqueles que só enxergam um único caminho?
  •  Conseguimos auxiliar uma pessoa na construção de novos projetos de vida?
  •  Temos a capacidade de confortar alguém em desespero através do nosso sorriso e abraço?
  •  Conseguimos nos organizar enquanto sociedade para exigir ao poder político melhores ações e projetos na área de Saúde Mental?
  •  Posso ser um empreendedor social e melhorar as condições de vida de um pequeno grupo, vizinhos, amigos ou desconhecidos?
  •  Sei perceber os sinais daqueles que estão a alimentar as ideias suicidas e atuar de forma a colaborar com ele?
Qual o nosso posicionamento diante de tudo isto? Enquanto uns se sentem impotentes perante este cenário, eu penso que há muito que se pode fazer para iluminar o caminho daqueles que precisam de mais uma oportunidade para (re)encontrar a Esperança. Cada pequeno gesto A.C.E.D.A – Atenção, Compaixão, Escuta, Disponibilidade e Afetividade, de muitas pessoas, poderá aceder e reacender a pequenina chama de Vida que ainda resta no Ser Humano e fazê-la crescer! O gesto A.C.E.D.A, não só pode salvar a vida de alguém, como pode proporcionar melhor e maior saúde física e mental a nós próprios. Cultivar estados mentais positivos como a generosidade e a compaixão decididamente conduz a uma melhor saúde mental e à felicidade.

Compreendendo o sistema A.C.E.D.A (*)

A

– Atenção às necessidades do outro e às suas emoções. Atenção aos sinais: afastamento dos amigos e da família; mudanças de humor e comportamento; tendência ao isolamento e ao distanciamento das atividades que geram prazer; preparativos “suspeitos” em deixar papéis em ordem e postura de despedida aos familiares e amigos; perda da autoestima; aumento do consumo de álcool, droga ou fármacos; distúrbios do sono e automutilação; insucesso escolar. Atenção ao Ser Humano!

C

– Compaixão. O sentido da compaixão neste sistema refere-se à compreensão de que todos têm o direito à felicidade. Neste sentido, surge o desejo de aliviar ou minorar o sofrimento de outro Ser através da ação, procurando compreender os motivos que o levam a escolher o suicídio como única opção. A compaixão-ação procura ajudar o outro a enxergar novos horizontes, incorporar crenças mais otimistas, focar o pensamento em estratégias diversificadas e visualizar novas soluções para os problemas que geram a dor insuportável; estimula o movimento do corpo através dos exercícios físicos e da dança, a expressão através da arte e da música e a capacidade de Sorrir mais, muito mais!

E

- Escutar com atenção, compreensão e respeito. “Quem aprende a ouvir com atenção, aprende a falar com proveito”. Escutar criando Empatia, isto é, percecionando a realidade como a outra pessoa a vê. Escutar, sentindo-se solidário com o outro. Ser um interlocutor ativo e apoiante do outro, fazendo-lhe companhia na sua viagem e ajudando-o a ganhar confiança em si próprio e na sua capacidade de autodeterminação e resolução de problemas. Escutar com atenção aos indícios das ideias suicidas: “não vale a pena viver”, “Quero acabar com tudo”, “Nada mais importa”, “Nada do que eu faça resolve”, “Nada mais tem sentido”, “Não há luz no fim do túnel”, entre outros, para atuar no resgate da Esperança.

D

– Disponibilidade de tempo e presença para a escuta, companhia e acompanhamento. Disponibilidade para “pensar com”, “pensar junto”; disponibilidade para encontrar meios de não deixar o outro sozinho, principalmente em momentos de crise; buscar o apoio técnico e especializado nos vários sistemas de saúde e ajudar ao outro a estabelecer relações de apoio e colaboração com outras pessoas e instituições; disponibilidade para amar!

A

– Afetividade possibilita ao ser humano revelar e demonstrar os seus sentimentos em relação aos outros. Graças à afetividade, as pessoas conseguem criar laços. Toda troca de afeto gera vida. Uma das expressões de afeto que geram altos níveis de bem-estar é o toque, o abraço. Todo corpo que é tocado, acarinhado por um abraço produz hormonas do bem-estar e do relaxamento, reduz a ansiedade e o medo e sente mais segurança e confiança. O abraço consegue evidenciar Três condições essenciais à vida do Ser Humano: o ato de respirar, os batimentos do coração e a troca de afetos! Logo depois vem o sorriso a costurar tudo e a estampar no rosto: Estou vivo e feliz!

O Cenário

A saúde mental é definida como um estado de bem-estar em que cada indivíduo percebe o seu próprio potencial (visão positiva da vida, auto estima), consegue lidar com as tensões normais da vida (resiliência, gestão do stress negativo), pode trabalhar de forma produtiva e frutífera (capacidade de ação e motivação), e é capaz de dar um contributo para a sua comunidade (agir para o bem comum, cooperação). Milhares de pessoas estão bem longe de vivenciar este estado de bem-estar.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) (*1) o suicídio está incluído no leque dos problemas sociais e representa uma das mais importantes questões de saúde pública. Estima-se que todos os anos, quase um milhão de pessoas morrem de suicídio, ou seja, uma taxa “global” de mortalidade de 16 por 100 mil habitantes, ou uma morte a cada 40 segundos. Nos últimos 45 anos as taxas de suicídio aumentaram 60% em todo o mundo. O suicídio está entre as três principais causas de morte entre aqueles com idade de 15-44 anos, em alguns países, bem como a segunda principal causa de morte no grupo de 10-24 anos de idade. Estima-se, ainda, que o risco de suicídio ao longo da vida em pessoas com perturbações do humor (principalmente depressão) é de 6 a 15%; com alcoolismo, de 7 a 15%; e com esquizofrenia, de 4 a 10%. Importante alertar que esses números não incluem as tentativas de suicídio e auto lesão que são até 20 vezes mais frequentes do que o suicídio consumado. Um evento igualmente preocupante.
Em Portugal, na última década, segundo dados do Eurostat (*2), a taxa de suicídio tem oscilado entre 4,5 por 100.000 habitantes em 1999 e 10,3 em 2010, com picos em 2002 (10,1), 2003 (9,4) e 2004 (9,6). À luz dos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), o número de suicidas variou entre 519 em 2000 e 1098 em 2010, tendo sido registado 1012 casos em 2011. Os estudos apontam para um aumento em 2012 de mortes por “lesões auto provocadas intencionalmente” em relação a 2011, principalmente na faixa etária acima dos 50 anos de acordo com o INE (*3). De uma forma geral, os casos ocorrem com maior frequência entre os indivíduos do sexo masculino. Há que reconhecer, antes de mais, que o número de suicidas registados não corresponde à realidade, devido à omissão de inúmeros casos e por incorreções na certificação de óbitos.
Vale alertar, que o suicídio também acontece na infância e na adolescência. Estudos indicam que a segunda maior causa de morte entre os adolescentes é o suicídio, sendo a primeira causa os acidentes de viação. “A idade com que as pessoas se suicidam tem vindo progressivamente a decrescer”, existindo “em idades mais precoces, como na infância”, afirmou Maria Manuela Correia da direção do Núcleo de Estudos do Suicídio (NES) (*4).
Diante dos efeitos da crise, do aumento do número de casos de depressão e transtornos mentais e das auscultações aos países, a Organização Mundial de Saúde (OMS) lançou o Plano de Ação Global de Saúde Mental 2013-2020 que contempla uma grande área relacionada à prevenção do Suicídio (*1). A boa notícia é que em Portugal já existe a elaboração do Plano Nacional de Prevenção do Suicídio (*5) que está na sua primeira fase. Cabe a nós, apoiarmos, comprometermo-nos e exigirmos que os planos delineados sejam executados.
Vejam alguns dos objetivos do Plano de Prevenção do Suicídio em Portugal (2013-2017):
  •  Uniformizar a terminologia e os registos dos comportamentos auto lesivos e atos suicidas;
  •  Aumentar os níveis de bem-estar psicológico;
  •  Melhorar a acessibilidade de grupos vulneráveis aos serviços de saúde mental;
  •  Aumentar a acessibilidade aos cuidados de saúde;
  •  Reduzir o acesso a meios letais;
  •  Melhorar o acompanhamento após alta de internamento hospitalar;
  •  Melhorar a informação e educação em saúde mental;
  •  Diminuir o estigma em torno da depressão, ideação suicida, comportamentos auto lesivos e atos suicidas;
  •  Desenvolver a capacidade de agir sobre a depressão e o suicídio nos cuidados primários, através da implementação de novos modelos de intervenção para a depressão;
  •  Sensibilizar os média para a necessidade de aplicação dos princípios definidos para a informação/descrição de comportamentos auto lesivos e atos suicidas;
  •  Aumentar o horário de atendimento de linhas de telefones SOS, através da criação de sinergias e complementaridade entre as existentes;
  •  Formar e desenvolver redes de porteiros sociais na comunidade/autarquia e em contextos específicos para campanhas de esclarecimento e prevenção (p. ex. escolas, Forças de Segurança, prisões);
  •  Contribuir para uma maior racionalização da política do medicamento, particularmente na prescrição de psicofármacos, sobretudo benzodiazepinas e antidepressivos;
  •  Celebrar o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio, em 10 de setembro, organizado pela Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio (IASP) e pela OMS e, em Portugal, pela Sociedade Portuguesa de Suicidologia (SPS), com o patrocínio da Direção Geral da Saúde, através do Programa Nacional para a Saúde Mental.

Atenção aos mitos:
Transversais a todo o processo de sensibilização e educação do público surgem os mitos em torno dos comportamentos suicidários, nomeadamente:
  • A pessoa que fala sobre suicídio não fará mal a si própria, apenas quer chamar a atenção.
Falso – Todas as ameaças devem de ser encarados com seriedade. Muitos suicidas comunicam previamente a sua intenção;
  • Os indivíduos suicidas querem mesmo morrer ou estão decididos a matar-se.
Falso – A maioria das pessoas que se suicida conversa previamente com outras pessoas ou liga para uma linha de emergência, o que mostra a ambivalência que subjaz ao ato suicida;
  • Quando um indivíduo mostra sinais de melhoria ou sobrevive a uma tentativa está fora de perigo.
Falso – Na verdade, um dos períodos de maior risco é o que surge durante o internamento ou após a alta. A pessoa continua em risco;
  • Os indivíduos que tentam ou cometem suicídio têm sempre uma perturbação mental.
Falso – Os comportamentos suicidas têm sido associados à depressão, abuso de álcool e outras substâncias psicoativas, esquizofrenia e outras perturbações mentais. A proporção relativa destas perturbações varia de lugar para lugar, havendo, todavia, casos em que nenhuma perturbação foi detetada;
  • Se alguém falar sobre suicídio com outra pessoa está a transmitir a ideia de suicídio a essa pessoa.
Falso – Não se causam comportamentos suicidas por se falar com alguém sobre isso. Na realidade, reconhecer que o estado emocional do indivíduo é real e tentar normalizar a situação induzida pelo stresse são componentes importantes para a redução da ideação suicida.

Contactos:

SOS – 112
Saúde 24 - abordagem clínica no âmbito do atendimento telefónico – 808 24 24 24
SOS – Voz Amiga: 800 202 669, 21 354 45 45, 91 280 26 69, 96 352 46 60
Telefone da Amizade: 808 223 353, 228 323 535, jo@telefone-amizade.pt,
SOS – Estudante: 808 200 204, 969 554 545
Escutar – Voz de Apoio: 225 506 070, sos.vozdeapoio@sapo.pt, Apartado 2533, Vila Nova de Gaia
Conversa Amiga: 808 237 327, 210 027 159
Telefone da Esperança: 222 030 707
Instituto Português de Suicidologia: http://www.spsuicidologia.pt
Clube do Riso Arte de Bem Viver – para alimentar a esperança, a alegria de  viver e o riso - 22 906 9860 - evelcarvalho@gmail.com
Referências:
Fontes: (*) - Sistema A.C.E.D.A – Eveline Carvalho Cunha – Projeto Arte de Bem Viver. *1- Prevenção do suicídio (SUPRE) disponível em: http://www.who.int/mental_health/prevention/suicide/suicideprevent/en/ *2 - EUROSTAT (2013). Statistcs, suicide rates. Disponível em: http://epp.eurostat.ec.europa.eu/portal/pgp_ess/partners/european_union/pt/tab_statistics?c=PT&|PT * 3-  Suicídio é 'solução' para cada vez mais idosos. Por: Notícias Ao Minuto. Disponível em: http://www.noticiasaominuto.com/pais/121241/suicidio-e-solucao-para-cada-vez-mais-idosos#.UoJXwvmpWSo *4- Suicídio: Segunda causa de morte dos adolescentes em Portugal. Disponível: noticias.sapo.pt/info/artigo/1052146‎ - 13/03/2010 AVANCI, Rita de Cássia; PEDRAO, Luiz Jorge  and  COSTA JUNIOR, Moacyr Lobo da. Perfil do adolescente que tenta suicídio em uma unidade de emergência. Rev. bras. enferm. [online]. 2005, vol.58, n.5, pp. 535-539. ISSN 0034-7167. *5- Plano Nacional de Prevenção do Suicídio – 2013-2017 disponível: http://www.portaldasaude.p

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