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quarta-feira, 7 de abril de 2010

Suicidio e Resiliência

Estávamos a espera de um amigo, quando este nos liga e diz: “Um rapaz que mora no meu prédio jogou-se da janela de seu apartamento e caiu em frente da garagem. Estava quase a sair e agora estou diante desta cena horrível e não posso sair de casa. Só fiquei a imaginar a dor de seus pais. E eu, com um bebe em casa, fiquei a pensar no futuro de meu filho”.

Casos como este acontecem com muita frequência em Portugal. Estudos realizados pela Sociedade Portuguesa de Suicidologia indicam que a segunda maior causa de morte entre os adolescentes é o suicídio, sendo a primeira causa os acidentes de viação. “A idade com que as pessoas se suicidam tem vindo progressivamente a decrescer”, existindo “em idades mais precoces, como na infância”, sublinhou Maria Manuela Correia da direção do Núcleo de Estudos do Suicídio (NES) do Serviço de Psiquiatria do Hospital de Santa Maria, em Lisboa (fonte: sapo on line, 13 de Março de 2010, 10:35)

Estas estatísticas fazem com que nós: pais, educadores, psicólogos e a comunidade em geral, paremos para reflectir.

O que está a acontecer com nossas crianças e jovens? O que está a ocorrer no seio das famílias? O que está a passar na comunidade e sociedade em que estes jovens estão inseridos?

Existem uma série de reflexões a fazer que não se esgotarão neste artigo. Mas vejamos alguns aspectos.

As causas que levam ao suicídio podem ser múltiplas. No caso do rapaz, que se suicidou atirando-se da janela do prédio do nosso amigo, a causa apontada foi o fracasso escolar e a não possibilidade de conquistar a tão sonhada vaga na universidade; para outros jovens é a pressão na escola – como o Bullying, ou seja, os actos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo (bully ou “valentão”) ou grupo de indivíduos com o objectivo de intimidar ou agredir outro indivíduo (ou grupo de indivíduos) incapaz(es) de se defender, história tão falada ultimamente nos telejornais; já para outros adolescentes as perdas amorosas e a briga com os namorados/as são momentos insuportáveis e já para outros é a desestruturação familiar, a quebra de vínculos, a falta de amor que impulsiona a acção de tirar a própria vida.

Mas, em todos os casos, é preciso avaliar: o que falta no conjunto dos elementos sociais (família, escola, sociedade) que não desenvolvem, ensinam, orientam, estratégias capazes de fazerem estes jovens superarem as frustrações naturais da idade e da vida?

Podemos dizer que há falta de uma disciplina importante na “vida escolar” e na “escola da vida”: a resiliência. Preocupamo-nos em dar o melhor aos filhos, as melhores condições de estudo, de casa, de roupas, os melhores telemóveis… cobramos e exigimos implacavelmente todo o esforço realizado em nome deles. Queremos as melhores notas, o melhor comportamento, o melhor feitio mas esquecemo-nos de fornecer-lhes os alicerces básicos para esta construção: amor, carinho e uma boa dose de exemplo. Sim, exemplo de paciência, de resiliência diante das dificuldades da vida.

Muitos jovens preferem a morte por não encontrarem mecanismos que façam superar os problemas do dia-a-dia. Foram orientadas a acreditarem que precisam ser perfeitos, ou que a vida sem alguém não faz sentido ou que não é possível reagir diante de uma ameaça, de uma violência.

Por isso, propomos aulas teóricas e práticas de resiliência!
A resiliência é a “Capacidade profunda para a superação de crise em situações adversas, estando presente em indivíduos, comunidades e instituições” (Nunes, 2007).

O ser resiliente possui um olhar positivo sobre a adversidade e desenvolve características como:

■Iniciativa (acção) – não espera que os problemas se resolvam do nada. Age procurando mudança e melhoria;
■Perseverança – constância nas acções – não desiste com facilidade;
■Coragem - Firmeza de ânimo ante o perigo, os reveses, os sofrimentos. Procura não se deixar abater;
■Encorajamento – incentiva a si mesmo e os outros para ir em frente;
■Esperança – encontrar os meios para atingir os objectivos, crença de que tudo acabará por correr bem;
■Fé - Adesão absoluta do espírito àquilo que se considera verdadeiro;
■Optimismo - Acreditar que os infortúnios são passageiros e que tudo resultará da melhor maneira possível;
■Sentido de vida ou objectivo de vida – O que quero para a minha vida? Aonde pretendo chegar? O que me faz feliz? Confrontar o que é possível e aceitar o que não pode ser mudado;
■Estabelece relações de apoio e colaboração com outras pessoas.

De acordo com estudos realizados por Seligmam (2005) para se conseguir o bem-estar e a felicidade é necessário perceber como as pessoas interpretam os momentos de crise e como passam por eles. Pessoas não resilientes adoecem e deprimem-se com mais frequência, têm maior probabilidade de cometer suicídios e não encontram o bem-estar desejado por não encontrarem estratégias eficientes para superarem os problemas naturais da vida, deixando-se levar pelo pessimismo, ou seja:

■Pela tendência em acreditar que as vicissitudes são irremovíveis, que minam todas as nossas actividades e
■Pelos sentimentos de impotência e incapacidade que geram desespero;

Por isso está mais do que na hora de investirmos no desenvolvimento de nossas capacidades de superação e de optimismo diante da vida. Valorizá-la e usufruir do melhor que ela nos tem a oferecer. Vamos construir um mundo mais resiliente?

Fonte:



Seligman, M. (2005) APRENDA A SER OPTIMISTA. Tradu�o de Alberto Lopes.

sapo on line, 13 de Mar�o de 2010

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