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terça-feira, 20 de julho de 2010

NO REINO DAS BORBOLETAS

À beira de um charco, formosa borboleta, fulgurando ao crepúsculo, pousou sobre um ninho de larvas e falou para as pequeninas lagartas, atônitas:

- Não temais! Sou eu... Uma vossa irmã de raça!... Venho para comunicar-vos esperança. Nem sempre permanecereis coladas à erva do pântano! Tende calma, fortaleza, paciência!... Esforçai-vos por sucumbir aos golpes da ventania que, de quando em quando, varre a paisagem. Esperai! Depois do sono que vos aguarda, acordareis com asas de puro arminho, refletindo o esplender solar... Então, não mais vos arrastareis, presas ao solo úmido e triste. Adquirireis preciosa visão da vida! Subireis muito alto e vosso alimento será o néctar das flores... Viajareis deslumbradas, contemplando o mundo, sob novo prisma!...


Enquanto a mensageira se entregava à ligeira pausa de repouso, ouviam-se exclamações admirativas:

- Ah! Não posso crer no que vejo!

- Que misteriosa e bela criatura!...

- Será uma fada milagrosa?

- Nada possui de comum conosco...

Irradiando o suave aroma do jardim em que se demorava, a linda visitante sorriu e continuou:

- Não vos confieis à incredulidade! Não sou uma fada celeste! Minhas asas são parte integrante da nova forma que a Natureza nos reserva. Ontem vivia convosco; amanhã, vivereis comigo! Equilibrar-vos-eis no imenso espaço, desferindo vôos sublimes à plena luz! Conhecereis a beleza das copas floridas e o saboroso licor das pétalas perfumadas, a delícia da altura e a largueza do firmamento!...

Logo após, lançando carinhoso olhar à família alvoroçada, distendeu o corpo colorido e, voltando, graciosa, desapareceu.

Nisso chega ao ninho a lagarta mais velha do grupo, que andava ausente, e, ouvindo as entusiásticas referências das companheiras mais jovens, ordenou, irritada:

- Calem-se e escutem! Tudo isso é insensatez... Mentiras, divagações... Fujamos aos sonhos e aos desvarios. Nunca teremos asas. Ninguém deve filosofar... Somos lagartas, nada mais que lagartas. Sejamos práticas, no imediatismo da própria vida. Esqueçam-se de pretensos seres alados que não existem. Desçam do delírio da imaginação para as realidades do ventre! Abandonaremos este lugar, amanhã. Encontrei a horta que procurávamos... Será nossa propriedade. Nossa fortuna está no pé de couve que passaremos a habitar. Devorar-lhe-emos todas as folhas... Precisamos simplesmente comer, porque, depois, será o sono, a morte e o nada... Nada mais...

Calaram-se as larvas, desencantadas.

Caiu a noite e, em meio à sombra, a lagarta-chefe adormeceu, sem despertar no outro dia. Estava ela completamente imóvel.

As irmãs, preocupadas, observavam curiosas o fenômeno e puseram-se na expectativa.

Findo algum tempo, com infinito assombro, repararam que a orgulhosa e descrente orientadora se metamorfoseara numa veludosa borboleta, voejante e leve...

Anotando a lição breve e simples, creio que há muitos pontos de contacto entre o reino dos homens e o reino das borboletas.

Fonte: Livro Contos e Apólogos. Francisco Cândido Xavier.

1 comentário:

  1. É tão bom ler uma mensagem tão positiva, cheia de esperança e com a certeza da mudança e do crescimento. Fazem parte de nossas vidas mudar, crescer e renascer para o novo sempre.
    Voa borboleta Eveline, você vai longe! Um abraço fraterno.

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